É verdade que doces em quantidade exagerada fazem mal. Mas no que diz respeito à cárie dentária, mais do que a quantidade, a forma como se ingerem é crucial.
Ainda há quem acredite que as cáries na dentição de leite não são relevantes. Isto porque 'desaparecem' quando os dentinhos caem. Contudo, está provado que elas deixam a sua marca: as crianças com cáries na dentição de leite têm um risco três vezes maior de vir a desenvolver cáries na dentição definitiva!
... que os doces, tendo que chegar, cheguem na hora certa.
É verdade que doces em quantidade exagerada fazem mal. Mas no que diz respeito à cárie dentária, mais do que a quantidade, a forma como se ingerem é crucial. No intervalo entre as refeições, devido à escassez de saliva, os dentes são mais suscetíveis à agressão. Assim, o consumo de doces (sempre em quantidade moderada!) será muito menos nefasto se ocorrer durante ou logo após as refeições do que de forma fracionada ao longo do dia.
... que insista na ideia de alimentos bons vs alimentos maus.
Bolos, chocolates, refrigerantes são verdadeiros "tormentos" para os pais dos nossos dias. Dar ou não dar, eis a questão... Não vamos lutar contra o que está determinado desde tempos imemoriais, mas vamos ter a noção que precisamos de ser comedidos e evitar, por exemplo, lanchinhos de gulodices na escola. Claro que é muito mais fácil "preparar" um donuts ou um bollycao... E a diferença só irá notar-se muito mais tarde, quando os dentinhos começarem a queixar-se!
Em contrapartida, há alguns alimentos que podem ser excelentes "auxiliares" da higiene oral. A maçã e a cenoura, por exemplo, funcionam como "pseudo-escovas", ajudando a remover os restos de outros alimentos. Por seu lado, o leite e derivados aumentam os níveis de cálcio na boca, reforçando a resistência do esmalte à agressão bacteriana.
... que "fuja" da síndrome do biberão.
As crianças que têm o hábito de adormecer com o biberão ou de chuchar nele por longos períodos apresentam maior risco de desenvolver cáries, nomeadamente nos dentes da frente. Está provado que isto se relaciona com o maior tempo de exposição destes dentes a substâncias com alto teor de açúcares (leite, sumos...) durante o longo tempo de permanência do biberão na boca. Procure fazer com que o seu filho se 'esqueça' do biberão por volta dos 12-14 meses, antes que este comece a causar estragos!
... que, se oferecer uma pastilha elástica ao seu filho, opte por uma sem açúcar.
As pastilhas com açúcar deverão, indiscutivelmente, ser banidas da cobiça do seu filho. Existem hoje em dia variadíssimas marcas sem açúcar, as quais não só não estão associadas a aumento do risco de cárie dentária, como parecem ter algum benefício quando usadas com moderação. De facto, o uso destas pastilhas após uma refeição ajuda a remover os restos alimentares acumulados entre os dentes e estimula a produção de saliva, dificultando a formação da placa bacteriana. Quando não é possível escovar os dentes, uma pastilha sem açúcar de 'sobremesa' pode ser uma boa alternativa! Claro que nem sempre estas pastilhas são as mais apelativas, as que têm o papel mais giro ou os brindes mais divertidos...
... que a escova de dentes também seja um "brinquedo" da escola.
Existe a ideia pré-concebida que lavar os dentes na escola é um perigo. Contudo, seguindo criteriosamente determinados cuidados básicos, a lavagem dos dentinhos nas escolas pode (e deve) ser aconselhada. Na verdade, o risco de contaminação, numa lavagem supervisionada, é nitidamente inferior àquele que ocorre, por exemplo, com a troca de brinquedos ou durante as refeições.
Cuidados:
- Supervisionar sempre a lavagem dos dentes;
- Nunca permitir a partilha de escovas de dentes;
- Identificar devidamente cada escova/pasta dentífrica;
- Arrumar todas as escovas com os filamentos voltados para cima, sem tocarem umas nas outras, em local apropriado;
- Lavar bem, individualmente, cada escova com água corrente;
- Não colocar as escovas todas juntas em recipientes com desinfetante;
- Substituir as escovas de 3 em 3 meses;
- Evitar a lavagem dos dentes na escola em crianças com défices imunitários.
Instituir esta rotina em todas as escolas seria uma das formas mais eficazes de lutar contra esta doença que "ataca" as nossas crianças.
Ariana Afonso, interna complementar de Pediatria
Serviço de Pediatria do Hospital de Braga Este espaço é da responsabilidade da equipa médica do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga, instituição certificada pelo Health Quality Service (HQS).
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