terça-feira, 24 de janeiro de 2012

EPIS. Ajuda a alunos em risco com taxa e êxito de 82% em 2011

Jornal Ionline 24-01-2012
A associação sem fins lucrativos precisa de dinheiro para poder continuar a combater o insucesso e o abandono escolar com novos programas de ajuda

A EPIS - Empresários Pela Inclusão Social surgiu em 2006, como resposta ao apelo então feito por Cavaco Silva: construir um modelo escolar à luz da inovação social e em ligação estreita com a comunidade. Dez empresários decidiram juntar-se numa associação sem fins lucrativos e lançar mãos à obra. O objectivo da EPIS é, antes de mais, potenciar as capacidades dos portugueses para desenvolver o crescimento da economia, começando pela qualificação. O trabalho consiste em promover um conjunto de programas que promovem a inclusão social, o combate ao insucesso e ao abandono escolar, através da ajuda a jovens que estão na escolaridade obrigatória.

O director-geral da EPIS, Diogo Simões Pereira, conta ao i como tem corrido a experiência e fala dos planos para o futuro.

Que trabalho tem desenvolvido a EPIS, desde a sua criação?
Temos trabalhado um bocadinho da frente para trás, uma vez que começámos com os jovens adolescentes e estamos a recuar nas idades. Quisemos começar na zona mais problemática. Começámos no fim da escolaridade obrigatória - que era, em 2006, o 9º ano. Aqui, as taxas de insucesso escolar estavam na casa dos 20% a nível nacional. Em determinados locais chegava a atingir os 30%, e em algumas regiões ainda se mantém assim. No fundo, tivemos de apagar o fogo e agora estamos, progressivamente, a fazer um trabalho de prevenção. Não fazia sentido começar só numa óptica de prevenção quando tínhamos nessa faixa uma floresta a arder.
Por que motivo era aí que se encontrava a faixa mais problemática?
Muitas causas encontram-se na casa dos 8/9 anos e estamos agora a aproximar-nos dessa zona.
Como está a EPISestruturada para poder trabalhar em todo o país?
Temos parcerias locais, que podem ser com autarquias, e aí trabalhamos o concelho todo ou quase todo. Mas também podem ser com escolas ou directamente com o Ministério da Educação ou até com empresas locais. Procuramos uma forma estável de trabalhar com os jovens. Temos também um núcleo central, que é de certa forma a coordenação de toda esta rede de recursos, que usamos do Norte ao Algarve.



Quais os problemas mais frequentes com que se deparam?

Jovens que estão em idade escolar e que têm percursos em ciclos viciosos: ou são jovens que já chumbaram muitos anos e continuam a chumbar - o tempo passa sem que eles estejam a desenvolver-se -, ou estão envolvidos em factores de risco que, caso não sejam corrigidos, entram no tal ciclo de reprovações. A ideia é que os alunos tenham boas notas ou que venham a ter no máximo duas negativas, para poder transitar de ano.



Qual é o objectivo último da associação?

O nosso objectivo é empurrar estes jovens o mais possível para a escola secundária, para que tenham uma boa classificação e consigam emprego. No limite, empurramo-los até onde eles quiserem ir. Se quiserem chegar à universidade, ajudamo-los inclusive com bolsas sociais.



Existe um padrão, nestes jovens?

O padrão que encontramos é normalmente comum e está relacionado com um ambiente familiar em que não se valoriza a educação e até onde existem carências económicas. A maioria delas pode ser trabalhada, porque os jovens têm competências e potencial para poder ter sucesso escolar, só precisam de apoio. O desafio inicial é motivá-los, mostrar caminhos e ajudá-los chegar lá.



Como é dada essa ajuda, na prática?

Ajudamo-los a organizar o seu tempo, os seus recursos, às vezes até a sua alimentação, higiene e sono. Estamos a fazer um trabalho até de substituição dos pais, pois também ajudamos nas necessidades afectivas. Os nossos técnicos fazem, no terreno, todo este trabalho.



E como é medido o êxito?
Na prática, medimos o nosso impacto através das notas. Neste momento já sabemos que houve uma melhoria significativa nas notas do primeiro período , quando comparado com a média do ano passado. Isto significa que estamos a criar valor social na comunidade de alunos onde estamos inseridos. Os mediadores estão lá a tempo inteiro, por isso é um trabalho remunerado, o que envolve uma componente económica que não tem sido fácil na conjuntura que atravessamos e que não nos ajuda a expandir os programas.



Como ajudam os alunos a melhorar as notas, no terreno?

Pela experiência, cerca de 30% dos alunos costumam necessitar de apoio. Estes casos são alocados ao mediador, que trabalha com eles nos intervalos, hora de almoço ou qualquer tempo livre. Por vezes, temos também ajuda na gestão de stress e da crítica, para ajudar os jovens a enfrentar o mundo do trabalho. Reencaminhamos casos excepcionais - 3% a 4% -, para órgãos locais. Trata-se de casos que necessitam de acompanhamento familiar, de saúde, tribunais e ajuda a menores.

Quanto tempo dura o apoio?

Normalmente três anos, neste caso do 7º ao 9º ano. Se os alunos reprovarem demora mais. Por outro lado, se os alunos têm boas notas diminuímos a carga de apoio.



Que caminho é seguido pelos jovens depois do secundário?

Muitos seguem percursos profissionais e muitos seguem o percurso regular. Alguns não querem o ensino superior, querem apenas um emprego.



Como funcionam as bolsas de apoio social dadas pela EPIS?

Temos programas de bolsas sociais que estão a começar a ser dadas no secundário. A ideia é acompanhá-los ao longo do secundário e, eventualmente, trabalharemos com alunos que queiram ir para a universidade. Temos parceiros interessados nisso e temos pessoas que estão a terminar o secundário, que acompanhamos no terceiro ciclo, e queremos saber se querem prosseguir os estudos. É daqui que eventualmente sairá o grupo que terá acesso às bolsas sociais.



Quantas empresas apoiam o projecto?

Em termos financeiros, temos mais de cem empresas contribuintes. Mas não há só envolvimento financeiro, como ocorria tradicionalmente. Temos um vasto programa de voluntariado empresarial que se destina a ligar empresas e alunos para descobrir as suas vocações. E este ano vamos envolver mais os nossos associados.

Na conjuntura actual há mais jovens a precisar de ajuda?

Há mais necessidades. Também há uma sociedade mais organizada para ajudar e acorrer a essas necessidades. Temos uma crise gravíssima, mas nunca como agora tivemos uma sociedade tão bem organizada para desenvolver esta situação, com o seu saber e com os seus recursos. A sociedade civil está mais activa do que há anos atrás.

Sente que a associação tem mais apoio?

Não posso dizer que o envolvimento das empresas tenha reduzido. A maior parte das que se desvincularam da EPIS foi por motivos de força maior. Sem estabilidade financeira não existe hipótese de colaborar nestas questões. Neste período, foi também possível atrair novos associados. Há muitas empresas que se revêem em programas como os nossos.

Que programas têm actualmente?

Existe um tipo de programas que funcionam há volta da rede de mediadores. Existem outras iniciativas para estimular a melhoria das notas, como por exemplo oferta de viagens de finalistas. Para complementar, temos também as bolsas sociais.

Há outro tipo de programa, a que chamamos “Escolas de futuro”, que incentiva a boa prática nas escolas. Os destinatários são os directores e equipas de gestão das escolas, por acreditarmos que as escolas bem geridas têm melhores resultados, melhores alunos e menos alunos em risco.

Defende a aplicação ao sector público das boas práticas por que se rege o sector privado. Pode concretizar?

São boas práticas organizacionais. Não estou a falar em transformar o sector público, a EPIS, ou escolas em empresas, mas apenas em aplicar estas práticas. As organizações são, fundamentalmente, pessoas e temos de treinar melhores recursos humanos para chegar mais longe. Ver cada indivíduo como um recurso que pode ser desenvolvido, através de formação, incentivos e avaliação. Ter sempre em conta os princípios de aumento da eficácia e eficiência, com as organizações a tentar fazer melhor o que fizeram no dia anterior. Todas as empresas têm uma missão, que tem de ter resultados concretos e visíveis. Nós tentamos aplicar este mundo aos jovens com que lidamos.



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