sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cada um para seu lado. Eles e elas aprendem melhor assim

 Os colégios Fomento são os únicos a separar rapazes e raparigas. Lá fora há 200 mil escolas a fazer o mesmo

É preciso assumir as diferenças. Elas gostam de comandar e eles ao pé delas têm poucas hipóteses de assumir o controlo. Eles são mais barulhentos e elas mais sossegadas. Elas crescem mais depressa e acham que eles são infantis. Elas fazem duas e três tarefas ao mesmo tempo e eles uma de cada vez. Os colégios Fomento, em parceria com o Opus Dei, são os únicos em Portugal a assumir essas diferenças nas salas de aulas. Os rapazes estudam no Planalto (Lisboa) e no Cedros (Gaia) e as raparigas no Mira Rio (Lisboa) e no Horizonte (Porto). Longe uns dos outros para não atrapalharem ninguém.

Não se trata de nenhuma cruzada contra os movimentos feministas nem sequer é uma campanha para acentuar os estereótipos entre os sexos. O ensino diferenciado é uma escolha suportada por factos científicos, assegura o presidente dos colégios Fomento, Jorge Maciel: "A maturidade intelectual e emocional das raparigas acontece mais cedo, logo reagem de forma distinta dos rapazes." Ambos aprendem as mesmas disciplinas e os mesmos conceitos. As estratégias é que são diferentes.

Aulas para raparigas Nem tudo precisa de estar tão organizado. Basta saber que há um grupo de exercícios para completar. Qual das tarefas será feita em primeiro é uma opção em aberto: "É possível dar maior autonomia às raparigas para serem elas a gerir o seu próprio tempo." Usar as emoções como motivação é um trunfo que só resulta entre elas: "Quando estão tristes, é impossível ignorar isso, sob pena de não se conseguir fazer mais nada durante a aula." A mesma estratégia para os rapazes é um erro fatal, alerta o presidente dos colégios Fomento: "Regra geral, fazer perguntas sobre assuntos do coração aos rapazes é uma intromissão na sua privacidade."

Pôr ordem na sala de aula é mais fácil entre turmas só com alunas. Basta subir o tom de voz para o silêncio encher a sala: "Elas, sendo mais sensíveis às frequências altas, têm tendência a interpretar uma chamada de atenção como um grito e calam-se facilmente." Detalhes, por outro lado, é o ponto forte das raparigas. Conseguem concentrar-se nas pequenas coisas e aguentam mais tempo a ouvir a professora.

Aulas para rapazes Turmas só de rapazes são mais barulhentas. O sistema nervoso não é igual ao das raparigas e por isso eles são inquietos dentro e fora da escola. "São mais agitados, e nós por outro lado, temos mais trabalho para manter o controlo da aula", conta António Lopes, professor de História do Colégio Planalto. Pô-los a competir uns com os outros costuma resultar: "Jogos de estratégia, com um chefe, um objectivo e um vencedor final", explica Jorge Maciel. Ou então perguntas directas e respostas vindas de cada um e cada um na sua vez, acrescenta António Lopes.

E aulas sempre bem estruturadas. "Cada tarefa terá de ser cumprida no tempo, na duração e com objectivos previamente estabelecidos", diz Jorge Maciel. Trabalho em equipa, tarefas práticas e rápidas para não perder a atenção deles. "Os resultados são melhores do que no ensino misto", garante o professor, que dá aulas nos colégios que ocupam os lugares de topo no ranking nacional de escolas básicas e secundárias.

Rapazes e Raparigas No 3.o ciclo, com 14 ou 15 anos, a distância entre eles e elas é ainda maior, avisa António Lopes: "Os rapazes são mais imaturos e sabem disso." Numa turma mista, essa percepção acaba por definhar boa parte das suas potencialidades: "Muitas vezes, eles não tomam iniciativa com medo de serem considerados infantis pelas raparigas."

Quando elas não estão no caminho é mais fácil. Nada melhor do que um exemplo concreto para as diferenças se tornarem claras. "A peça de teatro que as turmas do 7.o ano do Planalto estão a ensaiar para as jornadas culturais seria um espectáculo mais difícil de encenar com miúdas por perto. "Numa turma mista eles ficariam na retaguarda", diz o professor de História. Mas como é entre eles, assumem sem medo os papéis principais. Não se trata de desenvolver o lado feminino e masculino de raparigas e rapazes, esclarece o professor: "Trata-se, sim, de trabalhar aptidões que não se desenvolveriam se as turmas fossem mistas."

Mundos separados? Resta saber por fim se alunos e alunas dos colégios Fomento estão condenados a conviver longe uns dos outros até concluírem o secundário. Madalena Rendeiro Santos saiu do Mira Rio, no Restelo, há quase 11 anos e conta que enquanto lá esteve nunca viveu num "mundo à parte dos rapazes". Combinava encontros e sessões de cinema com as amigas do colégio que levavam os irmãos do Planalto. E lá em casa ainda havia seis irmãos que estudavam no Planalto, que levavam outros colegas do colégio. Os rapazes sempre estiveram perto de Madalena.

E mesmo que assim não fosse, caberia aos pais facilitar essa tarefa, defendem Lúcia e Leal Vasco, casal com dois filhos a estudar no Planalto e ainda três filhas a frequentar o Mira Rio: "Os colégios não são o único espaço de convívio para eles, que ainda andam na natação e aprendem música no ensino público", conta Lúcia Vasco.
 Publicado em ionline.pt 25 de Fevereiro de 2011

Sem comentários: