Porque é que há pessoas que manifestam ideias de grandeza, de poder e de omnipotência ao ponto de perderem o contacto com a realidade?
Como é possível que haja tantas pessoas com este perfil psicológico narcísico no topo da escala social?
Porque é que elas estão tão presentes nos eleitos para cargos importantes, nos ídolos desportivos, nos “show” mediáticos e, forçosamente, no seio de algumas famílias?
Porque dirigem elas muitas empresas e guiam muitos fiéis?
Porque estas pessoas com uma personalidade narcísica, infelizmente, fascinam e atraem as pessoas com outro perfil psicológico que vivem num vazio existencial e que não são nada poucas como se pode imaginar. Há algo que lhes falta na vida delas, são pessoas que possuem alguma carência afectiva ou têm ainda algumas mágoas das quais não conseguiram ainda libertar-se. Uma pessoa atraída, seduzida, por uma personalidade narcísica tem a sensação de que esta lhe vai colmatar esse vazio ou preencher essas carências. Lamentavelmente, e de forma muito subtil, sem se aperceber, deixa-se iludir, deixa-se arrastar e acaba por ser explorada insidiosamente, tornando-se numa “presa” ou num “joguete” ideal nas mãos destas pessoas com este perfil narcísico e pouco escrupulosas.
Porque estas pessoas com uma personalidade narcísica transmitem-nos uma espécie de confiança poderosa, mas que, no fundo, é artificial. Apresentam-nos um mundo ilusório que nos fascina, como se retrocedêssemos ao mundo mágico, confortável e protegido da nossa infância onde tudo era ainda possível, mas que nos vai afastar da realidade.
Porque o objectivo destas pessoas narcísicas é o de dominar os outros a todo o custo. Elas precisam de se sentir admiradas, “glorificadas” pelos outros. Exigem obediência. São capazes de recorrer a todas as formas desonestas, as mais indignas possíveis, sem limites para alcançarem o seu fim (incluindo a corrupção, a exploração desenfreada, a apresentação de ideias de grandeza, entre outras subtilezas devastadoras). Não desenvolveram uma estrutura mental suficiente para alcançar a ética na sua essência, a não ser para a utilizar a seu modo para manipular os demais.
O mais extraordinário é que uma pessoa com uma personalidade narcísica pode ter uma boa aparência, ser inteligente, bem-falante, divertida, muitas das vezes até mesmo simpática. Porém, ela desconhece os seus limites e age como se o outro fosse um prolongamento dela própria, um mero objecto descartável quando já não lhe serve, quando já não pode tirar mais dela para seu benefício. Não conseguem manifestar respeito pela individualidade do outro. É impossível haver uma relação de reciprocidade, em que cada um expresse as suas necessidades e desejos, sem que seja desvalorizado ou mesmo “agredido” pelo outro. Não há compromissos exequíveis que tenham em conta o ponto de vista do outro, a menos que anteveja nesse outro algo que possa aproveitar para seu mero interesse pessoal. Uma vez as rédeas do poder alcançadas, a arrogância vem ao de cima ou manifesta-se o desprezo quando a situação não lhe agrada.
Torna-se muito complicado e doloroso ser-se confrontado com este tipo de pessoas, pessoas estas que desenvolveram, desde tenra idade, todo um conjunto de estratégias para dominar, para manipular, para evitar a realidade que desde a infância lhe foi sempre insuportável, levando-as a afastar tudo o que lhe possa suscitar a vergonha, a imperfeição, o confronto com a realidade que lhe foi sempre penosa. É um verdadeiro especialista nisto. Estas pessoas quando se encontram num beco sem saída fazem-se de vítimas, culpabilizam os outros e projectam nesses aquilo que não querem reconhecer ou sentir neles próprios (por exemplo: inveja, desonestidade, incompetência, estupidez).
Mais uma vez, uma das formas para se evitar futuras pessoas com este tipo de personalidade, tanto capazes de arrastarem multidões para o sofrimento como o de serem uma preza fácil, é o de investir na educação dos nossos filhos.
Fonte: Criar outra Escola
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